terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Iniciamos com sua história, sua biografia.


DADOS BIOGRÁFICOS DE JOSÉ VALDEVINO DE BRITO



Em 05.11.1913, nasceu JOSÉ.
Penúltimo filho da família Valdevino de Brito. Nasceu no sítio Altos, onde passou a infância e parte da adolescência.

O tronco era em Porteiras, do velho Valdevino. Um dos Feitosas do Inhamuns, matou um e botou a maca nas costas e atirou-se no mundo, foi ficar em Cajazeiras do Rio do Peixe, e lá casou-se com uma índia e desse casal nasceu uma moça bonita, alta, loura. E  Valdevino Pinto da Cruz, que era de Milagres, viajava pra lá em tropa de burro, e simpatizou a moça, ele sendo moreno. E ela simpatizou ele. Ele pediu ela em casamento e o Feitosa não deu. Aí ele perguntou se ela fugia com ele e ela disse que fugia. Aí ele tirou ela de lá e veio pra cá pra Porteiras, conta o sr. Antônio Manoel.
A moça chamava-se Francisca Ferreira Ferro. Tiveram três filhos, duas meninas e um menino que tinha o nome de José Valdevino da Cruz. Depois, num tempo de fome, a família muda-se para o Lameiro que estava melhor para trabalhar.

José Valdevino da Cruz conhece Joaquina Alves de Brito, filha de Miguel Alves de Brito e Gracinda Maria da Conceição, e, sobrinha do major Eufrásio de Brito, proprietário do sítio Ponta da Serra. Os dois se casam em 13.11.1898 e vão morar no sítio Malhada, onde nascem os primeiros filhos: Maria, Antônio e Miguel. No sítio Boqueirão nascem Pedro e João. Nos Altos nascem os três últimos, Joaquim, José e Raimundo.   

Em 1925, José Valdevino da Cruz, que era agricultor e sempre trabalhou em terras arrendadas, compra seu primeiro pedaço de terra.
Aí, quando a gente deu fé, chegou lá em casa seu Inácio Leite, o pai dos Leites, pai de seu Valdomiro, pra oferecer essa terra, 50 braças de terra, a ele. E ele disse que não queria, que não podia, que não dava pra comprar não. Mas o velho pelejou. Dois contos e seiscentos. Tão barato. E nós todos juntos pra ele comprar. Era uma boca só: compre, compre... Eu tinha uma vaca e disse pra ele vender. Ele vendeu. Vendeu uma braça de fumo, mais algumas coisas. Vendeu muitas coisinhas e arranjou os dois contos e seiscentos. O dinheiro da terra e da escritura, porque ele é que tinha que pagar a escritura. Isso foi em 1925. Quando foi em 26 desocuparam a casa e nós viemos. Era uma casa velha e ele já estava fazendo a casa grande. Nós viemos pra casa velha e tinha muito percevejo. Era tanto percevejo. Eu acordava de noite toda me coçando. Foi o sofrimento maior do mundo. Quando viemos pra casa grande ela não estava toda pronta. Tinha o quarto deles e a sala, a cozinha e a despensa. Dormia tudo na sala. Eu dormia na dispensa. Mas, foram cuidando logo do resto. Em 27 já plantaram arroz na terra. Foi um ano que não deu bem. Era um arroz chochinho. A cacimba foi feita em 39, antes era cacimba de cuia, conta Maria Valdevino, Titia.
Raimundo Valdevino fala que o valor era três contos de réis e que seu pai pegou seiscentos réis emprestados a Duquinco de Brito, pai de dona Benigna e padrinho de Pedro. Fala, também, que o avô do seu pai por parte de mãe era João Ferreira Ferro. E diz, ainda, que Nego era como os irmãos chamavam José.
Raimundo também conta que José, desde adolescente, era muito bom agricultor. Um monstro na limpa de arroz. Quando pegava uma carreira de arroz, baixava a cabeça e só a levantava no fim. Antônio Manoel diz que ele não era campeão apenas na limpa, mas também na apanha do arroz. Ele não só plantava arroz. Plantava também milho, feijão, fava, mandioca e algodão.
Mas, José gostava de estudar. Frequentou apenas dois anos de escola, cursando até o segundo livro, mas foi o suficiente para tomar gosto pela leitura e procurava, sempre, formas de aumentar seus conhecimentos. Lia muito e lia tudo. Apreciava conversar com quem sabia mais que ele. Tornou-se amigo de todas as professoras que chegavam ao lugar, e, também, dos padres que uma vez por mês vinham celebrar missa na Ponta da Serra. Vem daí sua grande amizade com o vigário Assis, mais tarde mons.Assis Feitosa. Na década de 30, José foi sacristão e membro da irmandade de Santa Rita de Cássia. 

No início dos anos 40, José de Figueiredo Filho, farmacêutico e jornalista da cidade do Crato, promove um curso de primeiros socorros com pessoas de diversas comunidades e José Valdevino se destaca no interesse e no aprendizado. Resolve ser um prático de farmácia para ajudar a população da vila de Ponta da Serra e sítios vizinhos. José de Figueiredo Filho, em seu livro Meu Mundo é uma Farmácia, publicado em novembro de 1948, pelo Instituto Progresso Editorial S/A-IPÊ, em São Paulo-SP, fala o seguinte: José Valdevino era agricultor desde criança. De um dia para outro resolveu se transformar em farmacêutico. Comprou a coleção do Professor Heitor  Luz. Tocou a estudar com ardor e entusiasmo. Instalou-se em pequeno ponto e vendi-lhe os medicamentos. Sozinho aprendeu a manipular. Hoje José Valdevino é um bom prático e não deixa de ler as novidades relacionadas à profissão.

O sociólogo Gilberto Freire, em sua seção do “O CRUZEIRO”, cita trechos do livro de José de Figueiredo Filho e enfatiza a importância do prático em farmácia para as comunidades carentes dos serviços de saúde. Ele fala que o prático, nessas localidades, substitui o médico.
A população da Ponta da Serra e sítios vizinhos passa a procurá-lo para receitas, remédios e até pequenas cirurgias como retirada de caroços de cereais do nariz de crianças, anzol em dedo de pescador, besouros em ouvidos, espinha de peixe encravada na garganta, extrair furúnculos, e outras.
Aprende também a extrair dentes e passa a ser, além de médico, dentista do lugar. Sua popularidade cresce e sua fama chega aos lugares mais distantes, de onde vem gente procurá-lo. Mesmo nos casos mais complicados, quando José encaminha o paciente para a cidade do Crato para tratar-se com um médico formado, a pessoa voltava pra ele pra saber sua opinião se comprava ou não o remédio receitado.
Não havia pagamento pelos serviços prestados. Ele vendia o remédio na sua pequena farmácia.
Nessa época, um episódio mexe com a tranquilidade da família. Seu irmão Antônio, depois de 18 anos vivendo em São Paulo, volta com idéias diferentes. Diz que todos os irmãos têm que trabalhar por conta própria, inclusive Maria, que seu pai está demente e que é preciso vender a terra. Chega a dar início no processo de interdição do velho. Sua família fica atônita e sem saber o que fazer. José, que já despontava como liderança dentro da família, aconselha-se com advogados da cidade, entre eles o dr. Antônio Araripe, e enfrenta Antônio, que sem razão e com apoio de apenas um irmão, vai-se embora sem dizer pra onde e pra nunca mais dar notícia.

Ainda na década de 40, José interessa-se pela política e deixa-se influenciar pelas idéias do movimento integralista nacional. Passa a usar a camisa verde do movimento. Mas desencanta-se logo com o nacionalismo de Plínio Salgado.
Em 1942 nasce Socorro, sua filha, fruto de um relacionamento com Tereza Bernardo, conhecida por Têta, zeladora da igreja.

Em 17.02.1943 José Valdevino publica artigo no jornal “A AÇÂO”, de Crato, contando a história da construção da igreja de são José da Ponta da Serra.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
Em maio de 1946 José casa-se com Francisca de Moraes Brito, professora no sítio Juá, filha de Pedro Moraes Brito e Maria Júlia Oliveira, ainda sua parenta por parte de mãe.
Francisquinha ou Fransquinha, como era chamada carinhosamente pelos habitantes do lugar, ou Quinquinha, como chamavam seus familiares, se torna sua grande parceira no projeto de ajudar o povo e o lugar. Vão morar numa casa na vila de Ponta da Serra e em abril de 1947 nasce Alberto, o primeiro filho do casal. Um ano depois, em abril de 1948 nasce Hermano. Assunção em agosto de 1949 e Pedro em novembro de 1950.

Sua amizade com José de Figueiredo Filho continua e com ele está sempre discutindo as novidades do ramo de farmácia. Conversa bastante, também, com Jorge Siebra, farmacêutico prático famoso na serra do Quincuncá e com farmácia na cidade de Quixará, com quem troca opiniões.
No início de 1952, conhece Francisco Alves Pereira(Chico) que mora em Dom Quintino. Seu Chico instala-se dentro da casa de José para aprender a extrair dentes com ele e ensiná-lo, em troca, a fazer dentaduras. Em junho de 1952 nasce Júlia.
Nesse mesmo ano morre sua mãe Joaquina. Antes de morrrer, porém, ela faz um pedido a José, o filho: não deixe Maria sozinha e desamparada.
Em outubro de 1953 nasce José Júnior, que viria a falecer oito meses depois.
A esta altura, José Valdevino, com seus conhecimentos e sua ação humanista, assume de vez a liderança do lugar. As pessoas o procuram para ouvir conselhos, mediar conflitos, receber orientações. Os políticos do Crato o procuravam para solicitar apoio nas campanhas eleitorais. Filia-se à UDN. Inicia a campanha pela criação do distrito de Ponta da Serra.

Em 1955 nasce Fernando. A família muda-se para uma casa maior, ao lado da igreja. Em setembro de 1956 nasce Tarcísio. A sua luta pelo crescimento da vila é coroada com a criação do distrito de Ponta da Serra, pela LEI ESTADUAL 9.391, de 26.11.1957.
Em janeiro de 1958 nasce Gracinda. Em outubro José Valdevino de Brito é eleito vereador do município do Crato, tendo uma votação consagradora em todo o distrito e também na cidade.  No seu primeiro mandato, consegue a instalação de um Grupo Escolar, pelo prefeito José Horácio Pequeno, no distrito de Ponta da Serra. Consegue, também, trazer para a Ponta da Serra um Cartório de Registro Civil, cuja titularidade é entregue a Edvardo Ribeiro da Silva.
Em novembro de 1959 nasce Maria das Graças.
Em 1960 morre seu pai. José leva sua irmã Maria para morar com ele e Francisquinha, como tinha prometido há muito tempo à sua mãe.
Em abril de 1963 nasce Francisco José. Por volta de 1968 adotaram Antônio, filho de uma comadre que falecera.

Em setembro de 1967 é criada, pela Diocese do Crato, a Paróquia de São José da Ponta da Serra e empossado seu primeiro vigário Pe. Francisco Salatiel. Na ocasião, José Valdevino fez a saudação de boas vindas ao vigário, enaltecendo o espírito hospitaleiro do povo do lugar.
Reeleito para a Câmara Municipal, ele continua sempre buscando melhorias para o distrito. Em 1969 é eleito presidente da Câmara Municipal do Crato para o biênio 69/70, cargo que voltaria a ocupar outras duas vezes, em 77/78 e 81/82. Em algumas ocasiões assumiu o posto de Prefeito do Crato, na ausência do titular e do vice. Na Câmara Municipal era muito respeitado por seus colegas, pelo seu espírito democrático, por sua lealdade, pela sua firmeza e pelo seu conhecimento das leis e regimento interno da casa.

Sempre defendendo o distrito de Ponta da Serra, José, apesar de ser autodidata, sabia da necessidade de ampliar a oferta de ensino no lugar e se preocupava com os adolescentes e jovens que não podiam continuar seus estudos, pois não tinham condições de ir para a cidade. Na Ponta da Serra só tinha até a 3ª. série primária. Quer trazer um ginásio para o lugar. Começa a discutir o assunto com as autoridades do Crato e ganha o apoio do professor José Newton Alves de Souza, diretor do Colégio São João Bosco, de Crato, e do prefeito Humberto Macário de Brito, que instala um cursinho preparatório para a admissão ao ginásio, com a professora Maria do Socorro Primo de Brito. Em 1970, é criado o Ginásio Professor José Bizerra de Britto, pelo prefeito do Crato, Humberto Macário de Brito. Junto com o ginásio, é instalado, também um posto telefônico e o Posto de Saúde Joaquina Alves de Brito.

A chegada do ginásio foi um marco e deu um grande impulso no crescimento da vila, pois a população dos sítios e de outros distritos, se muda para a sede do distrito em busca de melhores escolas para seus filhos. senhor José Bernardo vivia do comércio e do aluguel dos seus cercados para os Eles
Consegue, em 1972, que a rede de energia elétrica de Paulo Afonso seja estendida para a Ponta da Serra, dando novo impulso ao lugar. Em 1974 o abastecimento de água.
Em 1986, um grupo de alunos do ginásio Prof.José Bizerra de Britto pesquisava a história da Ponta da Serra e foi, José Valdevino, quem lhes contou que a primeira família a habitar o lugar foi a Bernardo Vieira que tinha como chefe o sr. José Bernardo

Comboeiros, pois neste tempo o transporte era feito em animais. Teve papel de destaque na Câmara Municipal do Crato, onde exerceu, várias vezes, os cargos de presidente e secretário. O prédio onde funciona o legislativo municipal tem, hoje, o seu nome.

Faleceu em 26.12.1989, com 76 anos, vítima de um câncer de próstata.



5 comentários:

  1. É maravilhoso saber que meu vô foi tudo isso que está escrito, e é mais maravilhoso ainda saber que estive presente algumas vezes que o povo retribuía a ele, com tanta gratidão, com tanto amor... enfim, saber que ele não era só amado pela família, como também pelo povo que ele sempre cuidou...Estive no Crato e na Ponta da Serra em 2010, depois de 10 anos sem poder ir por lá... e mesmo depois de tanto tempo... as pessoas vinham me abraçar em agradecimento a alguma coisa que meu avô e minha avó tinham feitos por eles, isso é muito bom!!! Vô amo você eternamente.... dani

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  2. É sempre emocionante lembrar deles... e olho pra cada um da gente e os vejo, bem guardadinhos dentro de nós.

    Eu sou tão saudosista! Mas, isso é uma identidade bem Valdeviniana!

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  3. Uma história fascinante, um homem grandioso, que se tornou público com seu jeito sério, responsável, comprometido, fiel a sua história e a de seu povo, carregando em si toda uma sabedoria de vida, coragem e determinação.

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  4. Parabéns a todos pela iniciativa de criação do Blog. e me coloco a disposição de fornecer alguns documentos microfilmados ou trnscritos para enriquecer o blog.

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  5. o que o meu avô deixou foi um legado, uma historia de quem viveu para outros e mesmo assim deixou uma familia maravilhosa. tenho saudades deles, mas quando lembro deles , não esqueço o que eles foram para mim. devemos honrar a quem nos honrou!!feliz aqueles que o conheceu.. saudades vô.. RUBENS BRITO

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